A visita ao local foi conduzida pelo Dr. Luís Claudio de Faria, mestre em agronomia e doutor em genética e melhoramento de plantas, além de atual pesquisador da Embrapa – Arroz e Feijão. Ele é responsável por acompanhar o processo experimental em Euclides da Cunha e nos respondeu algumas questões sobre o resultado. Logo em seguida, você confere também uma rápida entrevista com Maria Djalma Abreu, responsável pela Secretaria à frente de todo o processo. Boa leitura!
Prefeitura -
Qual é a avaliação final da Embrapa em relação às cultivares que foram experimentadas aqui?
Luís Claudio - O saldo é extremamente positivo, o feijão está muito bom, muito acima das lavouras que eu tive a oportunidade de visitar no município. As cultivares estão muito bonitas, se desenvolveram muito bem, vão produzir muito bem.
Prefeitura - O que acontece agora?
Luís Claudio - A gente vai tirar umas amostras para medir o rendimento de cada uma delas para depois divulgar para os produtores qual foi a produtividade que a gente alcançou aqui nesse campo. Valeu muito a pena, é um trabalho que está começando, vai ser continuado ao longo dos próximos anos. É a primeira vez que a gente coloca aqui no município uma unidade demonstrativa das cultivares da Embrapa e o saldo foi extremamente positivo.
Prefeitura - Quais foram as principais vantagens e desvantagens percebidas aqui nestas cultivares?
Luís Claudio - Cada uma delas tem as suas próprias características, as suas peculiaridades, então nós temos um portfólio de variedades pra atender a praticamente todas as situações que ocorrem na região.
Prefeitura - o que isso significa, na prática, para o produtor?
Luís Claudio - Por exemplo, uma região que chove um pouco menos, você tem uma cultivar super precoce, que fecha o ciclo com 60 dias. Se você tem um produtor que usa pouca tecnologia, que ele quer um feijão mais pra subsistência da família, você tem um notável,
[BRS Notável ] que é um material mais rústico. Se você tem aquele produtor que aplica tecnologia, que aduba melhor, você tem um feijão 409 carioca,
[BRS FC409] com potencial de alto rendimento. Então, para todos os nichos, vamos dizer assim, você tem opções de variedades mais adequadas para aquela situação.
Prefeitura - Teria uma semente mais adequada, mais indicada para o solo e o clima de Euclides da Cunha?
Luís Claudio - Não. Eu diria para você que todas estas aqui se adaptam muito bem às condições de solo e clima de Euclides da Cunha, então é por isso que a gente fez questão de colocar elas aqui, pra mostrar pros produtores que o feijão é uma cultura viável, é uma cultura rentável, e precisa mudar um pouquinho esse paradigma de que o feijão é uma cultura difícil, que tem muita perda. Não.
Prefeitura - Muitos produtores estão abandonando a cultura por causa dos constantes prejuízos, das incertezas.
Luís Claudio - O feijão responde à tecnologia, ele produz muito bem, desde que se aplique o que já está disponível hoje. Porque a Embrapa, junto com as cultivares, vem com um sistema de produção já desenvolvido pela pesquisa e que está disponível para o produtor, basta que ele realmente tenha uma orientação adequada por parte da Secretaria da Agricultura, por parte da assistência técnica, para que se mostre que essa tecnologia é viável e que ele possa ganhar dinheiro com a cultura do feijão.
Prefeitura -
Como pesquisador e representante da Embrapa, você aconselharia um produtor que está usando uma outra semente, mais universal, a deixar e começar a experimentar uma destas testadas aqui?
Luís Claudio - Sim, sim, com certeza. Inclusive a gente está começando um trabalho com a Maria [secretária municipal da Agricultura], que é uma entusiasta da cultura, de produção de sementes destas variedades para que o produtor realmente possa ter acesso a estas cultivares, que a gente conhece e sabe que são boas, e não fique plantando um material de origem desconhecida, como tem acontecido hoje no município.
ENTREVISTA COM A SECRETÁRIA MARIA DJALMA ABREU
Prefeitura - Secretária, qual a próxima etapa dessa parceria entre a Secretaria da Agricultura, Embrapa e Sebrae com essas experimentações de cultivares de feijão?
Maria Djalma - Nós estamos aqui hoje muito felizes vendo o resultado da implantação dessa unidade experimental com oito cultivares. A partir de agora nós vamos fazer a colheita, armazenar metodicamente essas sementes e escolher produtores que possam multiplicá-las. A nossa intenção é em 2023 já ter um banco consolidado de sementes melhoradas, resistentes à seca e às pragas, como nós vimos aqui hoje na palestra.
Prefeitura - Euclides da Cunha perdeu o destaque na produção de feijão, você acredita que podemos recuperar?
Maria Djalma - O feijão vem tendo uma queda muito grande nestes últimos cinco anos em Euclides da Cunha, não estamos mais como o maior produtor da região, mas creio que com esse incentivo agora da Secretaria, da Prefeitura, nós temos como mostrar para o produtor que se ele estiver com tecnologia, preparado com informações, ele vai avançar muito.
Prefeitura - Algum município da região já tem experiência exitosa com essa prática?
Maria Djalma - Nós temos aqui um exemplo grande que é Paripiranga, que elevou muito o nível de produção e é alto demais comparado ao que nós temos. Para uma comparação rápida, se a gente colhe oito sacos por tarefa, eles estão colhendo até 22 sacos em uma área de mesmo tamanho. E nós temos o mesmo solo, o mesmo clima, então a gente precisa melhorar consideravelmente a questão da produção de grãos no nosso município.
Prefeitura - Como produtora e secretária, qual é a sua avaliação do que foi visto hoje aqui?
Maria Djalma - Dentro do que foi mostrado, as variedades, eu já identifico, na minha cabeça, para aonde vai, cada comunidade. Nós temos a primeira variedade aqui, que é o realce [BRSMG Realce], que ele vai pra aquele produtor que não tem condição de adubar com quantidade, é uma cultivar mais resistente à seca, então é aquele produtor da agricultura familiar, é aquele produtor que é assistido pelo Garantia Safra, que está na Secretaria o tempo todo com a gente, que não pega financiamento porque a área dele é muito pequena, mas que ele precisa ter uma produção qualificada, mesmo que seja para armazenar para sua subsistência e o excedente ele vender. Então, cada variedade aqui é identificada com a sua especificação, umas resistentes a pragas, outras com maior elevação, com maior produtividade, outras precoces... feijão que com 60 dias você planta e você colhe. Isso é uma novidade muito grande para a gente.